terça-feira, 29 de novembro de 2011

Perdidas

Dispensaram-me da aula de espanhol esses dias. Não me importei muito, não queria mais ir para a escola. Queria beber e fui até o bar. Cumprimentei o dono e pedi a mesma de sempre: cerveja. Nunca gostei muito de mudanças.
Acendi meu cigarro e lá estava eu, numa terça feira, num bar cheio de pessoas dispensáveis com seus sorrisos falsos e olhares insossos. Lá estava eu, sozinha mais uma vez, apenas com meus olhos queimando junto com o maldito cigarro. Eu quis chorar, me lembro. Mas algo tirou minha atenção e a lágrima que rolou era apenas água.
Um cara estava com sua namorada, esperando o ônibus. Não formavam um casal bonito, mas era bonito vê-los. Sorridentes, se abraçando. Pareciam realmente felizes. Eu senti raiva. Assim, apenas raiva. Engoli a fumaça de meu cigarro junto com as malditas lágrimas que queriam escapar. O meu destino parecia ser a eterna infelicidade.
E eu me surpreendi quando notei que o cara não tinha uma mão. Porra, sem a mão esquerda. Era como se alguém tivesse decepado a mão dele. Olhei para a minha instintivamente. Sua namorada parecia não se importar, segurava-lhe o pulso e apertava-o, como se estivesse segurando uma mão. Eles sorriam e se abraçavam e se beijavam e de novo. Eu quis chorar outra vez.  Aquilo só podia ser amor. Era bonito, era real e sem interesse. Abraçaram-se longamente antes da despedida e foram embora, sorridentes e apaixonados. E eu fiquei muito puta. Pode ter sido inveja, mas na hora eu apenas senti mais raiva. Como aquele cara conseguia viver sem uma mão? Como ele conseguiu uma namorada? E porra, como diabos será que eles faziam sexo? Ele usava aquele braço decepado pra enfiar em algum lugar? Por que eles não podiam parar de rir enquanto estavam ali? Deviam estar rindo de mim, da minha solidão estampada de uma forma tão patética.
Os pensamentos passaram, deixei que eles sumissem por um instante. Foi quando senti raiva de mim. Meu deus, eu sinto raiva o tempo todo! – pensei.  Senti raiva da raiva que senti deles. Da porra da inveja idiota. Mas que caralho, por que eu nunca poderia ser feliz? Qual era o meu problema? Eu nunca seria feliz. Verdade.
Eu, meus cigarros e cerveja, sozinha na porta de um bar, com as duas mãos inteiras e sem um abraço para me perder, poder chorar e depois ouvir “Vai ficar tudo bem, eu estou aqui”.
Droga, lágrimas de novo.