quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sorte

E eu a encontrei. Um anjo - era assim que eu a descrevia. Ela tinha cabelos dourados e íris cintilantes, de um azul tão límpido quando o céu. Por mil vezes me perdi em seus olhos e deixei-me levar. Ela dormia ao meu lado todos os dias, trajada de branco. Sua voz doce me paralisava e seu perfume me deixava em puro torpor. Eu estava sob efeito de algum anestésico, disso tenho certeza. Nada mais doía e ao passar do tempo, meu coração foi enchendo-se de muito mais amor do que eu poderia imaginar. Ela era minha, tão minha e de mais ninguém. Ninguém podia tocar-lhe a face, ou emaranhar-se naqueles cabelos louros – que eram meus! Tudo era meu. O corpo e a alma. Mas em um determinado momento, ela não quis mais ser minha. Disse-me que não me amava e lágrimas brotavam de seus olhos, sem parar. Pediu-me para deixá-la ir para casa. Mas ora, eu não podia! Eu disse que ela era minha. Ela estava partindo para ser de outro alguém, eu sabia. Queria me trocar por qualquer outro estúpido, estava me apunhalando pelas costas! Eu, que sempre fiz tudo por ela. Maldita! “Não – eu lhe disse – você vai ser minha pra sempre”.
Foi quando tudo fugiu do pouco controle que me restava.
Meu anjo quis correr de mim, gritou que eu era louco e que me odiava. Ódio, por mim? Eu apenas a amava demais para deixá-la ir, e eu não deixei. Em segundos, o vestido tão branco tornava-se vermelho. Eu a golpeei no estômago uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes – o meu número da sorte. O último olhar foi meu, o último suspiro foi por mim. De ninguém mais.